A sensação de não ser verdadeiramente compreendido, de ter necessidades emocionais não atendidas ou de viver em um estado de constante carência afetiva é uma experiência profundamente dolorosa. Para muitas pessoas, essa sensação se torna um padrão recorrente, uma falta que nunca parece ser preenchida. Isso impacta diretamente a autoestima e as relações interpessoais, criando uma sensação constante de vazio e frustração. Esse padrão de privação emocional tem raízes profundas em experiências de vida, muitas vezes formadas na infância, onde a ausência de suporte emocional afetivo cria um espaço de vazio interno que perdura na vida adulta.
Na Terapia de Esquema, uma abordagem desenvolvida por Jeffrey Young, esse padrão é explicado por um dos esquemas centrais: o Esquema de Privação Emocional. Este esquema descreve a crença de que as necessidades emocionais de uma pessoa não serão atendidas pelos outros, seja por incapacidade dos outros de oferecer suporte, seja por uma sensação de inadequação e desmerecimento de receber amor e cuidado.
O que é o Esquema de Privação Emocional?
O Esquema de Privação Emocional surge quando uma pessoa acredita que suas necessidades emocionais nunca serão atendidas de forma plena. Isso pode se manifestar como uma sensação constante de carência afetiva, onde a pessoa sente que não merece ser amada, ou que as pessoas ao seu redor não são capazes de oferecer o apoio emocional de que ela precisa. Esse esquema geralmente se origina em experiências de infância, quando a criança não recebeu o cuidado emocional necessário, ou quando a figura de cuidado não estava disponível de forma consistente ou eficaz.
Como o Esquema de Privação Emocional se manifesta?
Pessoas que têm o Esquema de Privação Emocional muitas vezes experimentam alguns dos seguintes pensamentos e comportamentos:
- “Eu nunca vou ter as minhas necessidades emocionais atendidas.”
- “Ninguém pode realmente me dar o amor e a atenção que eu preciso.”
- “Eu sempre vou me sentir vazio(a) por dentro, mesmo quando estou rodeado(a) de pessoas.”
- “Eu não mereço ser amado(a) ou cuidado(a).”
- “Eu sou sempre o(a) responsável por cuidar dos outros, mas ninguém cuida de mim.”
- “Eu não posso pedir ajuda, pois isso mostra fraqueza.”
Esses pensamentos geram um ciclo de sofrimento, onde a pessoa acredita que não há solução para a sua falta emocional, o que pode levar ao isolamento, à auto-rejeição ou até à busca por formas inadequadas de preencher esse vazio emocional.
De onde vem esse esquema?
O Esquema de Privação Emocional pode ter raízes em diversas experiências durante a infância e adolescência. Algumas possíveis origens incluem:
- Cuidado negligente ou ausente: Quando as figuras cuidadoras estavam fisicamente ou emocionalmente ausentes, a criança pode ter desenvolvido a crença de que suas necessidades emocionais não seriam atendidas.
- Falta de validação emocional: Se, ao longo da infância, as necessidades emocionais foram minimizadas ou desvalorizadas, a criança pode ter aprendido que não pode confiar nos outros para oferecer apoio emocional genuíno.
- Ambiente de críticas ou distanciamento emocional: Em um ambiente onde as emoções não eram expressas ou eram reprimidas, a criança pode ter internalizado que seus sentimentos não eram válidos ou mereciam ser ignorados.
- Experiências de abandono emocional: Vivências de rejeição, ou a sensação de que as pessoas ao redor não estavam disponíveis para apoio emocional, podem ter gerado a sensação de que é impossível contar com os outros.
Como o Esquema de Privação Emocional afeta sua vida?
Pessoas com o Esquema de Privação Emocional podem experimentar uma grande dificuldade em estabelecer conexões afetivas profundas. Esse padrão pode gerar um sentimento constante de frustração, insatisfação e desespero, pois elas acreditam que não há espaço para que suas necessidades emocionais sejam atendidas. Isso pode impactar diretamente a qualidade dos relacionamentos, levando a uma sensação de solidão, mesmo quando cercadas por pessoas.
Além disso, a baixa autoestima é frequentemente associada a esse esquema. A pessoa pode sentir que não merece ser amada ou que suas emoções são inconvenientes para os outros, o que a impede de pedir apoio emocional de forma saudável.
Como trabalhar o Esquema de Privação Emocional?
Apesar de ser um esquema profundo, é possível transformá-lo. Na Terapia de Esquema, trabalhamos com várias estratégias para ajudar o paciente a resgatar e atender suas necessidades emocionais de maneira saudável.
- Reconhecimento do esquema O primeiro passo é identificar que você tem esse esquema e entender como ele afeta sua vida. Isso envolve explorar as experiências passadas e como elas influenciam suas crenças e emoções. Compreender a origem desse esquema pode ser libertador.
- Desafiar as crenças disfuncionais A Terapia de Esquema oferece ferramentas para questionar e reformular crenças disfuncionais. Por exemplo, se você acredita que “ninguém pode me amar como eu sou” ou “não mereço cuidado emocional”, podemos explorar essas crenças e buscar evidências que as contradigam. Ao desafiar essas ideias, você começa a abrir espaço para novas percepções sobre si mesmo e sobre os outros.
- Construção de uma nova narrativa emocional A terapia oferece um ambiente seguro para reescrever sua história emocional. Isso envolve aprender a reconhecer e validar suas próprias necessidades emocionais e buscar formas saudáveis de atendê-las, seja por meio da comunicação aberta com os outros ou ao aprender a se cuidar emocionalmente.
- Desenvolver a autoestima e a autoaceitação Fortalecer a autoestima é fundamental para diminuir o impacto desse esquema na sua vida. Isso envolve reconhecer seu valor, se tratar com mais carinho e aprender a se permitir sentir e receber afeto. A autoaceitação ajuda a fortalecer sua capacidade de estabelecer relações afetivas saudáveis.
- Estabelecer relações saudáveis Trabalhamos no desenvolvimento de habilidades para criar e manter vínculos afetivos verdadeiros. Isso inclui aprender a se abrir para os outros, identificar relações que promovem o acolhimento emocional e, acima de tudo, confiar na reciprocidade dos cuidados afetivos.
O que você pode fazer agora
Se você se reconhece nesse padrão de privação emocional, saiba que não está sozinho(a). Existe uma explicação para esses sentimentos e, com apoio, é possível transformá-los. O primeiro passo é reconhecer suas emoções e perceber que suas necessidades emocionais são válidas e merecem ser atendidas.
Na psicoterapia, trabalhamos com você para identificar esse esquema e ajudá-lo a encontrar um caminho para vivenciar suas relações de forma mais saudável. A jornada para preencher esse vazio emocional começa com o primeiro passo: entender suas emoções, resgatar seu valor e aprender a cuidar de si mesmo(a). Se você está pronto(a) para explorar esse processo, a terapia pode ser uma grande aliada.
Estou à disposição para te ajudar a desenvolver um relacionamento mais saudável consigo mesmo e com os outros. A terapia é um espaço seguro onde pode ser possível reescrever a sua história emocional e construir um futuro mais pleno e satisfatório.
Referências:
Young, J. E. (2019). Reinvente sua vida (20ª ed.). Editora Sinopsys.
Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2008). Terapia do esquema: Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras (P. K. R. C. Costa, Trad.). Editora Artmed.
Wainer, R. (Comp.), Paim, K. (Comp.), Erdos, R. (Comp.), & Andriola, R. (Comp.). (2016). Terapia cognitiva focada em esquemas: Integração em psicoterapia. Editora Artmed.