Autocrítica: a comunicação interna capaz de sabotar sua paz e felicidade.

Você já refletiu sobre como se comunica consigo mesma? A forma como falamos e pensamos sobre nós pode ser um dos maiores determinantes da nossa saúde mental. Quando você olha para si mesma, qual é a primeira coisa que vem à mente? O que você diz a si mesma quando comete um erro ou enfrenta dificuldades? A maneira como respondemos a essas questões pode revelar padrões de pensamentos profundamente enraizados, que moldam a forma como nos vemos e como nos comportamos no mundo.

A pesquisa em psicologia e neurociências têm mostrado que os pensamentos automáticos críticos têm um impacto direto em nossa saúde emocional e física. Pacientes com psicopatologias graves, como transtornos de ansiedade e depressão, frequentemente experimentam ruminações negativas automáticas. Estes pensamentos muitas vezes são internalizados desde a infância, a partir de interações com figuras de autoridade que podem ter sido críticas ou impacientes. E esses padrões podem se perpetuar ao longo da vida, tornando-se um ciclo difícil de romper.

O desenvolvimento dos pensamentos e seus impactos na nossa vida

O ser humano é naturalmente influenciado por suas experiências. Nossas interações e vivências, principalmente nos primeiros anos de vida, moldam a maneira como vemos o mundo e a nós mesmos. Infelizmente, muitos de nós crescem em ambientes onde críticas constantes, desvalorização ou até violência emocional são vividas como uma forma de aprendizado. Isso pode criar uma base de insegurança e autocrítica, onde o cérebro começa a se acostumar com pensamentos punitivos, distorcendo a nossa percepção.

É importante lembrar que esses padrões não são naturais, nem imutáveis. Eles foram aprendidos ao longo do tempo e, como todo aprendizado, podem ser desaprendidos. Ao entender como os pensamentos críticos se formam e se repetem, podemos começar a intervir nesse hábito automatizado que impacta e sabota sua vida. 

Quando você se olha no espelho, sente que está sendo acolhida ou criticada a cada imperfeição? Quando falha em algum objetivo, se permite sentir orgulho do seu esforço ou se coloca em um lugar de desvalorização? O impacto disso no seu bem-estar é profundo. Pensamentos negativos recorrentes podem resultar em baixa autoestima, distúrbios de sono, estresse constante e até doenças físicas. Portanto, é essencial começar a cultivar a prática de observar e questionar esses pensamentos.

Como quebrar o ciclo da autocrítica?

  1. Observe seus pensamentos: O primeiro passo é se tornar consciente dos seus pensamentos automáticos. Muitas vezes, estamos tão acostumados com o fluxo negativo que não percebemos o quanto isso afeta nossa vida. A auto-observação é a chave.

  2. Questione a validade dessas críticas: Pergunte-se: “O que está me levando a pensar dessa forma? Existe alguma evidência concreta de que sou incompetente ou incapaz? Esse pensamento é realista ou exagerado?”

  3. Avalie os impactos desses pensamentos: Eles estão ajudando você a crescer ou a se estagnar? Pensamentos prejudiciais são como obstáculos em um caminho: eles dificultam a jornada e geram mais dor. Pense em como seus pensamentos podem estar criando mais sofrimento do que soluções.

  4. Trate-se com a mesma compaixão que teria por um amigo: Imagine que você está conversando com uma pessoa querida. Como você falaria com ela em um momento de dificuldade? Por que não se permite falar consigo mesma da mesma forma? O autocuidado não é apenas uma prática de afeto, mas uma atitude fundamental para manter o equilíbrio emocional.

  5. Reformule suas falhas e erros como oportunidades de aprendizado: Errar não significa falhar, mas sim aprender. Identifique as lições que cada situação oferece e use isso para se fortalecer. Em vez de se culpar, busque formas de crescimento e evolução.

  6. Esteja perto de pessoas que te motivem: O ambiente social tem um grande impacto em como nos sentimos. Circunde-se de pessoas que reconheçam suas qualidades, que vejam seu valor e te ajudem a acreditar nisso. Estar rodeada de positividade é um passo fundamental para mudar a narrativa interna.

Quando procurar uma psicóloga?

Às vezes, mesmo com esforço, o peso da autocrítica se torna difícil de carregar. Se você tem dificuldade em interromper padrões negativos ou se os pensamentos críticos têm interferido na sua qualidade de vida, procurar ajuda profissional pode ser essencial. A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), é uma abordagem eficaz para ajudar a reorganizar esses padrões de pensamento. Ao focar em como nossos pensamentos afetam nossas emoções e comportamentos, a TCC oferece ferramentas para reestruturar nossa forma de pensar, promovendo maior autocompaixão e resiliência emocional.

Lembre-se: a sua saúde mental é um reflexo do cuidado que você oferece a si mesma somado aos fatores ambientais. Não espere até que o sofrimento se torne insuportável. Buscar ajuda pode ser o primeiro passo para você se tornar mais confiante em si mesma e fazer a mudança que você almeja. 

O seu processo de autodescoberta começa com o simples ato de observar seus pensamentos e, a partir disso, reescrever a história que você conta sobre si mesma.

 

Referências

Predebon, B. M. (2023). Motivos para uso de aplicativos de relacionamento, autoestima, autoimagem e autocompaixão (Master’s thesis, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

Santos, M. T. N. S., & Beserra, E. M. T. (2024). A autocompaixão na teoria cognitivo-comportamental: uma perspectiva para a saúde mental.

Souza, K. M. R., & Ponciano, E. L. T. (2023). Ansiedade social e autocompaixão: reflexões sobre saúde mental a partir de uma revisão sistemática. Revista Mosaico14(2), 125-137.

https://www.scientificamerican.com/article/the-scientific-underpinnings-and-impacts-of-shame/

https://positivepsychology.com/shame-guilt/

 

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